É incrível o pouco que se fala sobre Portugal no ensino obrigatório espanhol, durante os quase 20 anos que estudei em Espanha, o único que explicaram, que eu me lembre, é que Portugal faz fronteira com Espanha, a sua capital é Lisboa, e no Porto fazem bons vinhos.
Açores e Madeira nem se mencionavam, de facto, eu não soube da sua existência até que comprei um barco a vela, no ano 2008, e comecei estudar as cartas náuticas do Atlântico Norte, e mais de uma vez tive que explicar a amigos e familiares espanhóis onde é que ficam os Açores, e que são umas ilhas portuguesas desde o século XV.
O facto é que eu sempre gostei muito de aprender história, e assim é que cada vez que vou à Vila para dar uma olhada ao meu barco, aproveito para tirar algum livro da Biblioteca, e assim, aos poucos, vou conhecendo um bocado mais da história do pais onde moro desde há já mais de 7 anos.
Estes são os primeiros livros que li:
Aquele da "Luta pelos Açores" é especialmente ameno e interessante, muito mais que alguns romances históricos que se publicam hoje em dia, o seu autor, José Freire Antunes, realmente consegue capturar a atenção do leitor desde o começo do livro até o fim.
Quando se mora cá nos Açores, é fácil esquecer a sua importância geoestratégica, um olha as vacas, o Mar e as florestas, e tem a impressão que ninguém se lembra dos Açores no resto do planeta, mas na Segunda Guerra Mundial jogaram um papel muito decisivo, e tanto os alemães como os britânicos/americanos tinham planos bem elaborados para invadir as ilhas pela força, o que felizmente não chegou acontecer graças a uma boa labor diplomática por parte de Portugal.
Eu era tão ignorante que quando cheguei a Portugal não sabia nem quem tinha sido Salazar nem o que é que foi o Estado Novo, assim é que tirei este outro livro da biblioteca da Vila para me informar, foi escrito pelo ex-ministro dos assuntos estrangeiros de Salazar, e para a minha surpresa o prólogo é do actual Presidente Português, Marcelo Rebelo de Sousa; é um livro bom, mas não tive tempo de o ler inteiro:
Fiquei muito surpreendido de ler que Portugal teve uns anos muito caóticos, entre 1910 e 1926, nos que viveu marcado pelo terrorismo e a instabilidade, chegando a ter nesses 16 anos 8 presidentes diferentes, 44 reestruturações do conselho de ministros e 21 revoluções de distintas cores, naquela altura, falava-se na Europa dos atentados em Portugal como hoje se fala da guerra de Afeganistão, só entre 1920 e 1925 houvera 325 atentados com bomba nas ruas de Lisboa, um autêntico pesadelo.
Assim é fácil de entender que se terminara por implantar uma ditadura militar em 1926, que com o tempo chegaria a ser o chamado Estado Novo, que sobreviveu até 1974 quando a famosa revolução dos cravos... é incrível como nas escolas espanholas não se fala nem uma palavra de tudo isto, quando Portugal é um pais tão perto de Espanha.
Para compensar os dois livros anteriores, que tive a impressão de serem um bocado pro-salazaristas, também li o livro intitulado "A historia da PIDE", que trata do lado mais escuro do Estado Novo; a PIDE (Policia Internacional para a Defesa do Estado) era a polícia política de Salazar, algo intermédio entre a KGB e a CIA, de facto as técnicas de tortura as aprenderam destes últimos, na mesma altura que encorajavam aos africanos para se revelar contra o colonialismo portugués.
A década dos 60 e 70 do século XX também foi muito dramática para Portugal, por um lado estiveram as guerras coloniais, e por outro um grande êxodo migratório, eu já conheci muitos portugueses dos que emigraram naquela altura, e também outros que estiveram na tropa em Angola ou na Guiné, todos eles têm histórias duras e dramáticas para contar.
De facto muitos dos que emigraram para América naquela altura terminaram por ter que ir à guerra de Vietname em vez de as guerras coloniais portuguesas, sobre isso li este outro livro "Portugueses na guerra do Vietname":
O anterior livro é especialmente interessante no sentido de que conta a história da guerra do Vietname em base a entrevistas com veteranos que lutaram lá no lado americano, muitos deles açorianos, de tal maneira que é possível fazer uma ideia em primeira pessoa do que foi essa guerra, ou no mínimo de como foi vivida pelas pessoas que lá estiveram, isso é um detalhe muito importante que costuma ficar esquecido nos livros de história quando estes são escritos desde um cómodo escritório de uma bela universidade pelas mãos de alguém que nunca esteve na guerra.
Por último, também li atentamente aquele livro sobre as aparições de Fátima, que pode parecer um evento de pouco peso histórico comparado com tantas guerras e políticos, mas o certo é que é algo que há influído as mentes e os corações de uma grande parte dos portugueses e de muitos estrangeiros, ainda há pouco li um artigo do Padre Fortea (um escritor muito conhecido em Espanha) onde faz menção das aparições de Fátima em relação aos actuais processos judiciais nos EEUU contra a Igreja Católica.
Isto é, que mais de 100 anos depois, o que aconteceu em Fátima em 1917 ainda está muito presente dentro e fora de Portugal, mesmo cá na ilha de Santa Maria está o segundo santuário dedicado a Fátima, depois do próprio de Fátima, e é um motivo representado em várias das igrejas da ilha:
Assim é que aos poucos já estou a conhecer mais da história de Portugal, mas ainda fica-me muito, só foi o passado 5 de Outubro que aprendi que esse era o dia da instauração da República... quando fui às compras até a mercearia e para a minha surpresa estava fechada, não é a primeira vez que descubro um feriado português daquela maneira ;-)